quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Meia-Noite em Paris

Midnight in Paris
(EUA, 2011)De Woody Allen. Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Michael Sheen, Allison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates e Carla Bruni.

Quando “Meia-Noite em Paris” estreou, este que vos fala estava ocupado demais com compromissos acadêmicos – leia-se, morrendo na monografia – e não pôde resenhar a crítica do filme. Em consolo, a pesquisa da monografia, era justamente sobre cinema, então dá pra relevar um pouco. Desculpas à parte, a questão é que “Meia-Noite em Paris”, o Woody Allen mais recente, estreou de mansinho e, de repente, já era um dos filmes mais queridos do diretor. À época, uma das coisas mais extraordinárias era ter Carla Bruni, a primeira-dama francesa, no elenco. Só depois de apreciado devidamente é que nos deixamos levar pelos encantos da cidade, filmada de maneira belíssima por Allen. Além disso, o filme evoca uma época de ouro da cultura e da arte, relembrando tempos passados que hoje, mesmo quem nunca os viveu, trazem na memória com saudosismo.

O escritor Gil está em Paris com a família de sua noiva a negócios. Ela quer discutir detalhes da cerimônia de casamento. Ele quer conhecer Paris e se deixar inspirar pela aura da cidade. Os dois têm temperamentos e gostos diferentes. Até que, em uma noite vagando sozinho pelas ruas parisienses, Gil embarca em uma carruagem que, estranhamente, o leva para o passado, junto do convívio de grandes pensadores e ídolos culturais dos anos 1920.  E aí somos levados pela discussão de qual época é realmente a melhor: aquela que fazemos ou aquela que já se passou. Gil fica literalmente dividido entre voltar para seus tempos atuais e ficar com a noiva ou permanecer em meio aos intelectuais do passado, especialmente ao se encantar pela jovem Adriana, uma entusiasta da Bélle Epoque. Isso sem ter certeza de estar vivendo uma fantasia ou a realidade.


A condução da trama traz aquele charme inegável de Woody Allen. O que “Meia-Noite em Paris” tem de diferente é exatamente trazer à tona questões que permeiam o espírito dos jovens mais intelectualizados de hoje em dia. Allen pinta Paris como a capital cultural do mundo de uma forma mais sóbria do que fizera com Barcelona alguns anos antes (em "Vicky Cristina Barcelona"). O roteiro, também de Allen, mistura os tons de fantasia e realidade com perfeição, com a Paris atual cheia de cores durante o dia e uma cidade mais boêmia à noite, quando vemos a Paris do passado.

Ao colocar tantos personagens brilhantes no roteiro, Woody Allen faz uma homenagem a todos os grandes pensadores e artistas que impactaram e inspiraram não somente a ele, mas a vários criadores do século XX. Vemos nas telas Salvador Dalí, Luis Buñuel, F. Scott Fitzgerald, T.S. Elliot, Henri Matisse, Ernest Hemingway e Cole Porter, isso pra mencionar alguns. Fosse nos dias de hoje, juntar todo esse time em um único filme daria trabalho. O diretor consegue colocá-los todos em um mesmo plano, sem destacar ninguém a não ser o protagonista, Gil, interpretado por um Owen Wilson mais maduro do que de costume, embora preserve os traços cômicos que são necessários para o papel.


“Meia-Noite em Paris” foi indicado a quatro Oscars (Filme, diretor, roteiro original e direção de arte). O último que Woody Allen levou foi o de melhor roteiro em 1987, por “Hannah e Suas Irmãs” e a última indicação veio em 2006, na mesma categoria, por “Match Point”. O filme não é o favorito nas categorias que disputa, mas recolocar o gênio Woody Allen (que, honestamente, não precisa de prêmios pra ser reconhecido) no páreo é uma lembrança boa de que o diretor está tão bem como nunca talvez estivesse.

Nota: 10


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