segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Artista

The Artist
(EUA, França/2011) De Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Berenice Bejo, John Goodman, Missi Pyle, Penelope Ann Miller, James Cromwell e Uggie.

Chega a dar um alívio no coração ver que ainda são produzidos filmes como “O Artista”, daqueles que fazem você se lembrar do por que você ama a sétima arte. No meio de tantas coisas produzidas, em um momento em que Hollywood se encontra em uma falência coletiva de criatividade, “O Artista” se destaca. E sim, tem tudo a ver com o fato de o filme ser mudo e em preto e branco. Não exatamente pela técnica, mas pela coragem que diretor, atores e produtores tiveram para levar a história adiante e emocionar plateias do mundo inteiro simplesmente usando expressões, gestos e trilha sonora, apoiados sim por diálogos sem som, mas que estão presentes seja nos letreiros, seja pela leitura dos lábios dos atores. Michel Hazanavicius conduz o filme de forma impecável, sem cansar nem um minuto e usando muito bem a técnica do cinema mudo em pleno século XXI. A metalinguagem nunca foi tão bem empregada em um exemplar do cinema.

George Valentin é o ator mais bem sucedido da era do cinema mudo, conquistando fãs e estampando as capas de revistas. Ele e seu companheiro canino Uggie estrelam produções de diversos gêneros, sempre divertindo e encantando as plateias. Em uma de suas premiéres, ele encontra a aspirante à atriz Peppy Miller, que depois acaba por ser figurante em um dos seus filmes, nascendo assim um encanto entre os dois. O que ninguém esperava é que uma invenção pudesse mudar os rumos do entretenimento: o cinema falado. George não acredita na invenção, enquanto Peppy desponta cada vez mais, conquistando o estrelato. Decidido a provar que o cinema mudo não acabou, George escreve, dirige e financia o seu próprio filme, sendo surpreendido pela falta de resposta do público e pela crise econômica de 1929. Enquanto ele cai na decadência, Peppy Miller se torna uma diva do cinema, sem nunca ter perdido o encanto por George.

A forma como o diretor narra a história de George Valentim é rica em detalhes e impressiona pela magnitude de sua concepção. Cenas como a exibição dos filmes em um desses cinemas antigos gigantes, com a apresentação do ator ao fim do filme, e os próprios créditos iniciais são de deixar qualquer cinéfilo com os olhos marejados. Os detalhes estão em todos os lugares: na reprodução dos jornais e revistas da época, nos cenários, nos figurinos e até no estilo de filmar, em aspecto 1.33:1, quadradão, assim como os filmes mudos originais. E esse realismo aproxima cada vez mais o espectador que, em questão de segundos, esquece que o filme é mudo e se deixa levar pela trilha sonora espetacular de     Ludovic Bource. 

Aliás, curiosamente, o uso do som é perfeito e faz perceber como o som é tão importante hoje em dia e quase não nos damos conta dele. Isso se torna evidente em um sonho de George Valentin, onde todos os elementos à sua volta fazem barulho: um copo sendo posto na mesa, a cadeira arrastando, o cachorro latindo, uma pena caindo... No final, o som volta a ser empregado dessa maneira brilhante, fascinando e não deixando outra alternativa a não ser aplaudir o filme.


A dupla protagonista, Jean Dujardin e Berenice Bejo, transmite carisma com facilidade e conseguem passar suas emoções sem dizer uma palavra sequer. Dujardin então tem duplo papel, que é fazer as caras e bocas de George Valentin no set e o cara comum que tem suas próprias emoções e dramas pessoais para lidar. Mesmo o cachorro, o bem treinado Uggie, se destaca e já se candidata como melhor performance realizada por um animal diante das câmeras. 


“O Artista” é uma concepção rara de um diretor visionário que passou para a película toda a sua paixão pela era do cinema mudo e também pelo cinema em geral. A transição da época silenciosa para os filmes falados foi dolorosa para estúdios e atores, sem dúvida, mas teve importância de peso naquilo que o cinema viria a se transformar. Claro, essa arte mutante, que cria novas técnicas a cada dia, mas que não desiste nunca de contar boas histórias, nos fazer refletir e ajudar a tocar as nossas vidas. “O Artista” é a homenagem mais do que justa a tudo o que o cinema nos faz.

Nota: 10

Nenhum comentário: